A fantástica fábrica de saúde: Genômica Nutricional.
Com a evolução da tecnologia, os estudos sobre a genética humana vivenciaram um avanço nunca antes imaginado. Entre todas as áreas onde se aplicam as técnicas genômicas, uma vem ganhando crescente e especial interesse: a Genômica Nutricional. Afinal, “nós somos o que comemos”. Para falar sobre os desafios da nutrição moderna e sobre como definir as melhores dietas para as necessidades humanas com base no código genético, o portal LabNetwork entrevistou a nutricionista e nutrigeneticista do Centro de Genomas®, Tatiane Mieko de Meneses Fujii. Acompanhe:
LabNetwork – O que é a genômica nutricional?
Tatiane M. M. Fujii – A Genômica Nutricional é uma ciência que engloba três conceitos importantes, a Nutrigenética, a Nutrigenômica e a Epigenômica Nutricional. Embora, didaticamente, seja importante separá-las, na prática os conceitos se complementam. A Nutrigenética investiga como as variantes genéticas mais comuns presentes nos indivíduos, como os polimorfismos de nucleotídeo único (SNP), podem estar associados com as necessidades nutricionais de determinados nutrientes, por exemplo. Já a Nutrigenômica se refere ao estudo de como nutrientes e compostos bioativos da dieta realizam a comunicação com os genes, contribuindo para a modulação da expressão gênica. Em outras palavras, se um indivíduo possui um SNP no gene da enzima MTHFR (metilenotetrahidrofolato redutase) que está associada ao metabolismo do folato, a atividade enzimática pode ser reduzida em, pelo menos, 30%. Isso favorece prejuízos para o ciclo de um carbono e pode aumentar as concentrações de homocisteína, um importante marcador de risco cardiovascular. Dessa forma, a necessidade de consumo de ácido fólico pode ser maior em indivíduos polimórficos, quando comparados aos selvagens. Ainda, em 2014, A Academia de Nutrição e Dietética publicou uma posição sobre a Genômica Nutricional e destacou a ciência da Epigenômica Nutricional, em que determinados nutrientes doadores do grupo metil (CH3) como as vitaminas B9 e B12 são capazes de interagir com o DNA, promovendo metilação em sítios específicos, como as ilhas CpG, regulando a transcrição gênica. Dessa forma, mesmo com definições distintas, os termos se complementam e formam a Genômica Nutricional.
LabNetwork – Qual sua importância para a saúde?
Tatiane M. M. Fujii – A Genômica Nutricional está inserida no contexto da Medicina 4P Genômica, baseada em quatro pilares: Preventiva, Preditiva, Participativa e Personalizada. Por esse motivo, ao se conhecer as variantes de risco, o paciente pode se sentir estimulado e convencido a mudar hábitos de vida considerados poucos saudáveis. No Centro de Genomas®, trabalhamos com o conceito de Saúde Metabólica e é por isso que o teste de Nutrigenética® contempla 11 perfis, sendo realizado apenas uma vez na vida, já que as variantes não mudam, ou seja, ao se identificar os riscos na infância, esses riscos persistirão no adulto e no idoso. Estudos mostram que quanto mais precoce for a introdução de hábitos alimentares saudáveis, melhores são as chances de modular o processo de doença. Por exemplo, se um indivíduo apresenta maior predisposição à obesidade, os fatores ambientais como a qualidade da dieta, podem evitar que o risco se torne um evento clínico. Para tanto, a fim de utilizar essa ferramenta para a elaboração da Dieta Personalizada, segundo a Portaria 009 de 2015, publicada pelo CRN3, o profissional que trabalha com testes de Nutrigenética deve estar capacitado para não haver interpretações equivocadas e que isso traga prejuízos aos pacientes. O principal objetivo de utilizar o teste de Nutrigenética é associar às avaliações já realizadas, mais uma ferramenta, possibilitando que o profissional seja mais assertivo nas condutas.
LabNetwork – Como são feitos esses exames. Quais as técnicas envolvidas?
Tatiane M. M. Fujii – As amostras podem ser sangue ou saliva. No caso da coleta de sangue, não há necessidade de jejum, mas no caso da coleta de saliva, é importante que o paciente fique 30 minutos em jejum, incluindo a ingestão de água. Após o recebimento das amostras no laboratório, é realizada a extração de DNA genômico. A quantidade de DNA disponível na amostra é um fator limitante para dar seguimento às demais etapas do processo. Após, o DNA genômico é processado no sistema TaqMan® Openarray, seguido de outro sistema automatizado de carregamento de lâminas denominado Accufill. Em seguida, ocorre a etapa de amplificação, realizada por PCRq Real Time para a detecção dos ácidos nucléicos. O sistema reconhece o sinal de fluorescência emitido, com auxílio de uma câmera. A plataforma utiliza sondas lineares (Taqman) para a detecção que se baseia na atividade da exonuclease da Taq polimerase, na direção 5’- 3’. Os filtros utilizados para a detecção do alelo 1 é o VIC e do alelo 2 é o FAM.
LabNetwork – Como se faz a análise dos resultados?
Tatiane M. M. Fujii – O analista técnico responsável realiza a análise a partir de um software, no qual os genótipos são agrupados (“cluster”) e identificados. É feita dupla conferência dos resultados antes de realizar o interfaceamento para outro sistema disponível online com a máscara do exame de Nutrigenética®. Após o lançamento dos resultados nesse sistema, as nutrigeneticistas realizam a interpretação do laudo. Os laudos são sempre liberados com duas conferências e o nosso prazo de entrega é de 40 dias úteis.
LabNetwork – Depois de feita a análise, quais os passos seguintes?
Tatiane M. M. Fujii – Os prescritores recebem login e senha por email para ter acesso aos laudos dos pacientes. Disponibilizamos o Aconselhamento Genômico Nutricional, que é exclusivo do Centro de Genomas®, o qual trata de uma discussão do caso do paciente, em que o prescritor apresenta um breve histórico clínico do paciente e a nutrigeneticista faz as sugestões baseadas nos resultados do exame.
LabNetwork – A quem se destina esse exame genético?
Tatiane M. M. Fujii – O exame é destinado a todas as pessoas que desejam aumentar o saldo de saúde. Embora não se trate de um exame diagnóstico, ele pode auxiliar o profissional a ser mais assertivo nas condutas propostas.
LabNetwork – Pode-se considerar que esse tipo de abordagem é o futuro da medicina preventiva?
Tatiane M. M. Fujii – Afirmamos que é o presente! A abordagem da Medicina Preventiva já é uma realidade tanto para a comunidade acadêmica como sua utilização na prática clínica. Os estudos estão nos trazendo novas perspectivas e o aprimoramento das técnicas de biologia molecular, como as plataformas de sequenciamento de nova geração (NGS), faz com que o cenário da Medicina Personalizada avance, com investimentos em pesquisas na área. Com certeza, ainda não exploramos tudo porque não conhecemos toda a complexidade que envolve a relação entre gene-nutriente. A finalização do Projeto Genoma Humano, realizada em 2003, nos trouxe novas expectativas e novos desafios para buscar a cada dia mais conhecimento. No cenário da Genômica Nutricional estamos em constante atualização dos estudos que são publicados periodicamente, a fim de nos aprimorarmos e informar nossos prescritores do que há de mais recente na literatura científica.
LabNetwork – Que outros exemplos você pode citar nessa linha de exames genéticos?
Tatiane M. M. Fujii – No setor de Medicina Personalizada, temos os testes de aptidão física, conhecido como Genogym; saúde da pele, chamado de DNA Perfect Skin; risco cardiovascular, nomeado de CardioRisk; teste de risco à alopecia androgenética feminina e masculina e resposta à finasterida; risco ao melanoma; e suscetibilidade genética ao queloide.
Fonte: LabNetwork